David Byrne, RadioHead, Música e, afinal, qual é a da Microsoft?

A Wired de janeiro traz uma entrevista feita pelo David Byrne com o Thom Yorke do RadioHead, sobre o real valor da música. Em certo ponto da entrevista, os dois discutem a evolução da música, que partiu de algo com substrato social (no passado, para ouvir música, um ser humano, ou mais, a estariam executando) para algo que passava a ser movimentado por meios tecnológicos (LPs, cassetes, CDs, DVDs, internet). Ambos chegam a conclusão de que uma caixinha plástica, com um disco brilhante dentro, não pode ser chamado de "música", assim como um carrinho de supermercado carregado não pode ser chamado de "comida".

O que motivou a entrevista, porém, foi o fato do RadioHead ter colocado seu mais recente CD, In Rainbows, disponível para a compra via web. Com o detalhe de que, quem determina o preço, é o comprador. Como era de se esperar, o RadioHead lucrou mais com esse CD do que com todos os outros, juntos, vendidos anteriormente. E as vendas do CD em seu formato tradicional também vão muito bem.

David Byrne não vê problemas com as músicas sendo baixadas individualmente pela internet, mas diz que isso é bem diferente de um CD, onde a seqüência e a intenção do artista em colocar uma música como a base para a que vem a seguir, também é importante. Em um show, trabalha-se isso de outra forma. Enfim, cada forma de disseminação de uma música pode enfatizar outras maneiras de ouvi-la. Yorke falando sobre as músicas em um CD, diz algo que pode ser interpretado de maneira muito mais ampla: "As músicas amplificam, uma a outra, se colocadas na ordem correta".

Nas páginas que se seguem à entrevista, Byrne escreve suas estratégias de sobrevivência para artistas iniciantes e megaestrelas. Não tenho porque reproduzir o que o líder dos Talking Heads escreveu, pois tudo está disponível na web. Mas associo o que acontece com a música ao que acontece no mercado de tecnologia da informação.

Creio que muita gente leu ou ouviu falar sobre as mais recentes ações da Microsoft voltadas à abertura de código e à interoperabilidade. O Linus Torvalds, certamente leu a respeito e até comentou. Eu tenho a plena certeza de que a Microsoft pode publicar o Office sob a GPLv3 e ainda assim irá existir uma meia dúzia de três ou quatro com o pé atrás, tentando arregimentar um exército contra qualquer ação neste sentido vinda da empresa. Fico pensando no que aconteceu com a indústria fonográfica e nos enormes prejuízos que estão tendo as empresas que não souberam se reposicionar com a velocidade do mercado. Também fico pensando em quanta gente é "ouvinte" de música em comparação a quantos usam computadores e seus softwares.

Dada a penetração que tem a Microsoft no mercado, também penso em qual o impacto da abertura de formatos binários de documentos do Word e das várias APIs para a interface com o Office (para ficar em poucos exemplos), em comparação com outras tantas propaladas aberturas que, certamente, motivarão comentários neste artigo.

Estou com o Linus, e com a declaração dele, corajosamente reproduzida na íntegra no Porta25: "Eu posso fazer piadas com a Microsoft e, eventualmente, dizer que eles fazem coisas estúpidas. Mas eu penso que neste caso eles deram um passo na direção correta".

Pode ter demorado um pouco (demorou mesmo?), mas certamente veremos mais passos nessa mesma direção.

Artigo produzido para o Dicas-L



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